quarta-feira, 25 de março de 2015

III SEVI-SUS mudou a minha vida!

Eu acho incrível como as melhores experiências da minha vida caem de paraquedas, eu soube da SEVI-SUS por e-mail e decidi que iria me inscrever, eu não imaginava o quão maravilhosa ela é, nem que teria carga horária descobri tudo isso na viagem. E retornando o post anterior, lembro que escrevi assim: 

 "É muito importante como estudante de saúde participar de todas as oportunidades que vão te tornar um profissional e um ser humano melhor, experiências são sempre bem vidas e eu tenho certeza que essa irá contribuir muito para meu conhecimento. Não há nada mais gratificante do que viver a universidade." 

Já no primeiro dia eu descobri que a SEVI era muito mais que isso, muito mais do que participar de todas as oportunidade, muito mais que experiências, muito mais do que contribuir para o conhecimento, mas é amor, carinho, companheirismo, luta, construção, é uma contribuição para a vida e sua forma de viver. Em todos os depoimentos que você ouvir uma frase não vai faltar "A SEVI MUDA VIDA, MUDOU A MINHA VIDA". 

Vou utilizar o meu relatório para ilustrar como foi essa semana, é grande, mas vale a pena.

A SEVI-SUS me surpreendeu no momento da inscrição, pois não tinha ideia do que era, simplesmente senti que era algo a ser feito. Eu não tinha ideia para onde iríamos, o que iríamos fazer e muito menos se teria carga horária. Respondi a perguntas com muito medo, pois não me preparei para tal, fui verdadeira sobre o que eu pensava e tinha estudado sobre. Passar pra segunda fase estava só somando no quadro das surpresas, e no momento da mesma eu achei que não sairia viva, pois teria ali mesmo algum colapso nervoso. Poderia dizer que passar, para então viver a semana interdisciplinar, seria a surpresa suprema, porque no momento que eu passei foi. Mas a surpresa suprema mesmo foi à vivência como todo, que para mim já começou no momento da capacitação.
A capacitação foi algo que nos introduziu como seria essa semana, os textos, debates e a forma que foi conduzida, que, diga-se de passagem, muito bem organizada, nos mostrou a teoria da Semana de Vivências Interdisciplinar no SUS. No entanto, gestos simples dos monitores e até mesmo dos selecionados me deu uma prévia do que seria o “muito mais” que eu não esperava.
Domingo dia 22 de fevereiro, a viagem seguiu seu rumo ao que seria a mudança de caráter, pensamento e de vida de cada um presente. Chegando ao município de Teixeira de Freitas mesmo com todos muito saturados por conta da longa viagem, tivemos vai uma prévia do que teríamos a semana toda, e dessa vez foi uma música:

Alguém está batendo na portinha do seu coração (2x)
(Nome) você é muito especial para nós
Aqui quem fala é a SEVI
Que te ama
Assim...
Assim...
Assim...

Fomos muito bem recepcionados e bem alimentados, mostrando mais uma vez a alta capacidade dos construtores do FAS (Forúm Acadêmico de Saúde) e dos monitores ali presentes, deixando bem claro nos primeiros minutos que tudo foi arduamente trabalhado para sair da melhor maneira possível.
No primeiro dia, segunda-feira 23 de fevereiro, fomos visitar os PSF (Programa Saúde da Família), os ESF (Estratégia Saúde da Família) logo pela manhã. Lembrando que, fomos divididos em grupos onde tínhamos um monitor e quatro ou cinco estagiários.  Então seguindo essa lógica seguimos por toda semana. Voltando para a visita pela manhã, eu e meu grupo (e mais um que ficou para fazer as visitas com a gente) tivemos muita sorte em encontrar um PSF que apesar de algumas deficiências, funcionava da maneira que lhes cabiam e conhecemos aquela que logo no primeiro dia já marcou pra sempre nossa viagem e nossas vidas, a médica cubana Drª Dora. Podemos também entender os conceitos já estudados, ou seja, conseguimos ver na pratica toda a estratégia do NASF (Núcleo de Apoio à Saúde da Família). Na tarde do mesmo dia visitamos o CEO (Centro de Especialidades Odontológicas), onde tivemos a oportunidade de saber todo o processo de atendimento e até ver como se produzia uma prótese, algo muito enriquecedor.  Nessa mesma tarde fomos ao CEM (Centro de Especialidades Médicas), tivemos um diálogo muito rápido, e ouvimos como era o processo farmacêutico do mesmo. Ouvimos muitas contradições, principalmente na relação de referência e contra referência citado nos NASF, que nos disse que quando eles passavam à referência era muito difícil receberem a contra referência, dificultando o acompanhamento. Na noite tivemos discussões sobre as visitas e fizemos uma analogia com o que lemos sobre o SUS. E também tivemos a apresentação dos Núcleos de Base, os NB’s, que foi o que eu já citei lá em cima, grupos com um monitor. Cada um tinha que escolher um nome, escolhemos o de Zilda Arns e fizemos uma paródia da musica "Eu sou a diva que você quer copiar - Valesca Popozuda" 

Do povo quis cuidar

A saúde melhorar

Mas sofria preconceito

Quem foi que disse que mulher não tem direito?

Ela lutou pelos pobres, fundou a pastoral

Escuta o que eu vou te falar

Zilda é o modelo que devemos copiar 

 



Para acrescentar sobre a organização, os NB’s tinham funções todos os dias, então a alvorada (para acordar todo no horário certo), alimentação (para se certificar que todos façam suas refeições), a limpeza (para deixar os ambientes coletivos limpos) e a animação e disciplina (para deixar todos sempre animados, com gritos de guerras, musicas e etc. e se certificar sempre que estão todos dentro dos ônibus e coisas do tipo).
Na terça-feira dia 24 de fevereiro visitamos o Centro de Reabilitação Mãe Maria, local que, com certeza, despertou uma vontadezinha de ser Fisioterapeuta, conversamos com uma assistente social e com uma fisioterapeuta que nos explicou todo o funcionamento, e ao visitar pudemos ver alguns profissionais em prática, o local foi muito proveitoso e conseguimos perceber que estava funcionando, mas como todos, também tinha alguns problemas, como a falta de alguns profissionais. Logo depois fomos visitar o CTO (Centro de Tratamento Ortopédico) local que nos deixou um pouco tristes por conta do pouco espaço utilizado, apesar de ser um espaço grande, e da falta de estrutura. Logo depois voltamos ao alojamento para o almoço, lembrando que, todos os dias depois do café da manhã íamos para as visitas, voltávamos para o almoço e retornávamos logo após para outra visita. Fomos visitar pela tarde o Centro de Testagem e Aconselhamento, onde tivemos uma espécie de “aula” sobre como funcionavam gostamos muito da profissional que estava trabalhando a apenas dias lá, mostrando-se muito empenhada em melhorar o local. Na noite tivemos um debate sobre o financiamento e as intenções com o capitalismo, isso em grupos, e logo depois fizemos um “link” da visita com o nosso debate, isso já com todos juntos.
Mas a parte das visitas, logo cedo foi pedido para que a gente fizesse um peixinho de papel e cuidasse dele o dia todo e colocando um nome no mesmo, eu coloquei o nome do meu de solidariedade, porque eu estava ocupada na minha atividade do dia e não tive como fazer, então Sara fez pra mim, ato que me deixou muito feliz, na noite depois do nosso debate foi feito uma dinâmica revelando a função daquele peixinho, mostrando mais uma vez que sozinhos não podemos fazer muita coisa, mas junto com certeza podemos fazer muitas e muitas coisas.  
O CARDUME QUER REVOLUÇÃO!
Dia 25 de fevereiro, na quarta-feira visitamos o CAPS AD pela manhã e tivemos a maior aula de motivação de todas nossas vidas conhecemos profissionais tão empenhamos e apaixonados pelo o que fazem que todos nós saímos com uma sementinha plantada de luta. Foi explicado como tudo funcionava e a grande dificuldade que tinham para manter, e que se não fosse pela garra daqueles profissionais aquele lugar já teria “morrido”, mais uma vez foi salientada a falta de investimento e a falta de outros profissionais necessários, de equipamentos e materiais. O discurso me emocionou muito, e me fez entender que em cada palavra ali estava um pedido de socorro, que eles sozinhos não podem mudar tudo para melhor, que eles fazem tudo aquilo que está ao alcance deles e até mais, mas que eles precisavam da nossa ajuda. Não foi dito com essas palavras, mas todos nós saímos tocados e com esse pensamento. Já no CAPS II, a visita feita logo depois, nos mostrou dois tipos de profissionais, um que não demonstrava nenhum tipo de interesse de estarem ali trabalhando, que por sinal, fazia parte do conselho municipal de saúde, e outros que, ajudavam de todas as formas aquelas crianças, mas infelizmente ouvimos alguns discursos que nos deixaram extremamente tristes. Foi uma visita que despertou dois olhares. Na tarde, como não tivemos visita, nossa atividade foi no alojamento mesmo, com apresentação de documentários e com muitas discussões acerca da saúde mental e a atenção da saúde pública para a mesma, fazendo que nos refletíssemos e perceber que é uma área pouco assistida, mas que precisa urgentemente de mais atenção. Na noite de quarta tivemos um debate caloroso sobre o machismo, racismo, sobre identidade sexual e orientação sexual, feminismo e as questões de raça, um debate que foi muito enriquecedor, nós trazendo várias reflexões, sobre até nossas atitudes diárias.
Na quinta, dia 26 de fevereiro, tivemos a visita que, diga-se de passagem, mudou pra sempre a vida de cada um presente. Visitamos o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra ou Movimento Sem Terra), onde tivemos uma conversa com os moradores do Assentamento Rosinha do Prado, que nos deixou completamente inspirados com a organização, companheirismo e luta! Foi uma oportunidade maravilhosa de conhecer a historia do assentamento e também ouvir as famílias e as histórias delas. Almoçamos lá mesmo e de tarde fomo visitar as famílias. Tive a oportunidade de conhecer uma família jovem, que me fez refletir muito sobre o que seria realmente a saúde. Conheci um cadeirante que disse que tinha vontade de sair dali com a esposa e os filhos por conta de sua saúde, mas que permanecia por causa do seu pai que não queria se mudar de maneira alguma, conversando com o pai percebemos o amor que ele tinha por sua terra e a forma que estava bem ali, me fazendo refletir mais uma vez sobre o que é saúde, saúde não seria o bem estar físico e mental? Pois aquele senhor estava feliz onde ele estava e tanto importava os fatores ditos “essenciais” ditados por uma sociedade capitalista. Mas refletindo a pergunta feita a noite na roda de discussão, se eles eram saudáveis, ou melhor, se tinham saúde? Eu respondi no dia citando alguns exemplos que hoje não tomo mais como um, mas reformulei e pensei bem sobre o que eu disse, sobre as outras falas, e sobre o que venho estudando. Eles são sim saudáveis, mais do que a gente, mas a saúde não envolve só a felicidade, mas também o acesso a essa saúde faz parte do “o que é saúde” e infelizmente os relatos que tivemos, de serem negados em postos, de ficarem um ano ou mais para conseguir uma consulta ou um exame, esses fatores me fez entender que a saúde para está sendo negada, há uma grande parcela da sociedade que fecham os olhos para o que está acontecendo, e pior, acabam ainda por cima criticando de maneira alienada um movimento. Um transporte público também lhe és negado, então eles recorrem ao companheirismo a luta para que consiga se locomover para a cidade, entre outras coisas. Naquela noite tivemos um debate sobre determinantes e conceitos de saúde, reforçando tudo aquilo que estudamos e presenciamos na visita. Pode se dizer que foi a discussão mais quente e emocionante que tivemos, os relatos e principalmente os discursos demonstrando o quanto essa visita nos fez sentir o desejo por mudança.
Na sexta feira, ultimo dia de nossa viagem, dia 27 de fevereiro tivemos a visita ao Hospital Municipal de Teixeira, que, nos deixou extremamente tristes com tudo que vimos. Um hospital referência que não tinha um nutricionista, que faltava roupas para o médico poder realizar as cirurgias, que tinham o mínimo de conforto ou segurança para seus pacientes; uma superlotação com pacientes no corredor e extremamente sujo. Saímos muito tristes, não estávamos acreditando no que estávamos vendo. Logo depois dessa visita fomos visitar o SAMU, que me marcou muito, por conta de sonhar em trabalhar nesse local. Conheci uma das pessoas que eu tenho certeza que nunca mais vou esquecer na vida, o Enfermeiro Igor, que é muito apaixonado por aquilo que ele faz. Ele fez questão de nos mostrar todo o processo e todos os equipamentos da ambulância, seu discurso humanizado inspirou cada coração ali presente, no final, depois de ter segurado o choro por tantos dias, eu não consegui me conter e disse a ele toda a admiração que senti em tão pouco tempo. Na tarde tivemos a visita ao Conselho Municipal da Saúde, onde pudemos conversar com os seus integrantes, foi algo que pudemos mostrar tudo aquilo que vimos e perguntar sobre as providências que estão sendo tomadas para resolver, percebemos e ficamos muito tristes com a falta de informação sobre saúde daqueles que faziam parte do conselho. E então, voltando para o alojamento, tivemos o que podemos chamar de “noite do choro”, onde nós pudemos falar tudo o que aquela semana representou para nós, as nossas aprendizagem; falar sobre como nós pensávamos antes e como tudo mudou logo após essa semana, foi uma noite muito forte. E depois revelamos nossos Amigos Clandestinos e  tivemos a nossa Cultural.
Enfim, tenho certeza que será uma experiência para levar para o resto da minha vida, as pessoas que conheci, as conversas, os debates, as convivências, os abraços... Principalmente a ideia maravilhosa do Amigo Clandestino, que era sorteado uma pessoa, que ninguém poderia saber quem era, e você sempre deixasse naquela caixinha, recadinhos e/ou presentinhos simples, demonstrando o carinho uns com os outros e também cuidando daquela pessoa, tanto que nos apelidamos de “anjos”, então tínhamos sempre que nos certificarmos que aquela pessoa tinha comido, que estava bem, que estava dentro do ônibus e afins. Eu tive a sorte de tirar uma pessoa que sempre me inspirou muito e tive a oportunidade de deixar isso bem claro a ela. E dessa forma todos estavam sendo bem cuidados e mimados.
Todas as visitas e todas as atividades me acrescentaram de maneira absurda na minha formação, meu conhecimento e até a minha forma de pensar. Hoje eu sou mais completa, tenho certeza do que realmente quero fazer e que saúde é sim o caminho que sempre quis trilhar. E que apesar de tudo nós podemos sim mudar a nossa realidade porque assim como a nossa saúde publica foi criada, através da luta, nós também podemos melhora-la com esse mecanismo. Colocando sempre muito amor em tudo aquilo que estamos fazendo, não nos esquecendo nunca de que a nossa missão é cuidar e estar sempre disposto a prevenir, promover e a salvar a vida de outras pessoas, tratando-as sempre como humanos, porque é isso que nós somos. 

A SEVI MUDA VIDA
MUDOU A MINHA VIDA!



¹Frases do tipo "Paciente para mim não significa dinheiro, e sim cuidar da melhor maneira possível." "Em Cuba não existe hospital particular." "Cuba não tem criança na rua, não tem violência, e existem carências econômicas, o Brasil é rico!" "Calamos a boca dos fofoqueiros com o nosso trabalho." "Um dos problemas está na formação." e nos explicou como é o processo de contrato e etc. Enfim, frases como essa nos fazem refletir sobre nosso sistema e sobre nós mesmos. 

Espero que tenham gostado e desculpa a demora, esse relatório deu 6 páginas, imagina se eu fosse escrever tudo de novo aqui né não dá. E desculpa eu ter sumido assim, mas meus horários estão mais loucos do que nunca, para terem noção só tenho acesso a computador no final de semana, ou seja, pesquisar, trabalhos e etc. só podem serem feitos nesses dias. Adeus vida. 

ps: Não sei porque as letras ficam mudando de fonte e tamanho. 

xoxo,
Carol Magalhães. 

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