"É muito importante como estudante de saúde participar de todas as oportunidades que vão te tornar um profissional e um ser humano melhor, experiências são sempre bem vidas e eu tenho certeza que essa irá contribuir muito para meu conhecimento. Não há nada mais gratificante do que viver a universidade."
Já no primeiro dia eu descobri que a SEVI era muito mais que isso, muito mais do que participar de todas as oportunidade, muito mais que experiências, muito mais do que contribuir para o conhecimento, mas é amor, carinho, companheirismo, luta, construção, é uma contribuição para a vida e sua forma de viver. Em todos os depoimentos que você ouvir uma frase não vai faltar "A SEVI MUDA VIDA, MUDOU A MINHA VIDA".
Vou utilizar o meu relatório para ilustrar como foi essa semana, é grande, mas vale a pena.
A SEVI-SUS me surpreendeu no momento da
inscrição, pois não tinha ideia do que era, simplesmente senti que era algo a
ser feito. Eu não tinha ideia para onde iríamos, o que iríamos fazer e muito
menos se teria carga horária. Respondi a perguntas com muito medo, pois não me
preparei para tal, fui verdadeira sobre o que eu pensava e tinha estudado
sobre. Passar pra segunda fase estava só somando no quadro das surpresas, e no
momento da mesma eu achei que não sairia viva, pois teria ali mesmo algum
colapso nervoso. Poderia dizer que passar, para então viver a semana
interdisciplinar, seria a surpresa suprema, porque no momento que eu passei foi.
Mas a surpresa suprema mesmo foi à vivência como todo, que para mim já começou
no momento da capacitação.
A capacitação foi algo que nos
introduziu como seria essa semana, os textos, debates e a forma que foi
conduzida, que, diga-se de passagem, muito bem organizada, nos mostrou a teoria
da Semana de Vivências Interdisciplinar no SUS. No entanto, gestos simples dos
monitores e até mesmo dos selecionados me deu uma prévia do que seria o “muito
mais” que eu não esperava.
Domingo dia 22 de fevereiro, a viagem
seguiu seu rumo ao que seria a mudança de caráter, pensamento e de vida de cada
um presente. Chegando ao município de Teixeira de Freitas mesmo com todos muito
saturados por conta da longa viagem, tivemos vai uma prévia do que teríamos a
semana toda, e dessa vez foi uma música:
Alguém está batendo na portinha do
seu coração (2x)
(Nome) você é muito especial para
nós
Aqui quem fala é a SEVI
Que te ama
Assim...
Assim...
Assim...
Fomos muito bem recepcionados e bem
alimentados, mostrando mais uma vez a alta capacidade dos construtores do FAS
(Forúm Acadêmico de Saúde) e dos monitores ali presentes, deixando bem claro
nos primeiros minutos que tudo foi arduamente trabalhado para sair da melhor
maneira possível.
Do povo quis cuidar
A saúde melhorar
Mas sofria preconceito
Quem foi que disse que mulher não tem direito?
Ela lutou pelos pobres, fundou a pastoral
Escuta o que eu vou te falar
Zilda é o modelo que devemos copiar
No
primeiro dia, segunda-feira 23 de fevereiro, fomos visitar os PSF (Programa
Saúde da Família), os ESF (Estratégia Saúde da Família) logo pela manhã.
Lembrando que, fomos divididos em grupos onde tínhamos um monitor e quatro ou
cinco estagiários. Então seguindo essa
lógica seguimos por toda semana. Voltando para a visita pela manhã, eu e meu
grupo (e mais um que ficou para fazer as visitas com a gente) tivemos muita
sorte em encontrar um PSF que apesar de algumas deficiências, funcionava da
maneira que lhes cabiam e conhecemos aquela que logo no primeiro dia já marcou
pra sempre nossa viagem e nossas vidas, a médica cubana Drª Dora. Podemos
também entender os conceitos já estudados, ou seja, conseguimos ver na pratica
toda a estratégia do NASF (Núcleo de Apoio à Saúde da Família). Na tarde do
mesmo dia visitamos o CEO (Centro de Especialidades Odontológicas), onde
tivemos a oportunidade de saber todo o processo de atendimento e até ver como
se produzia uma prótese, algo muito enriquecedor. Nessa mesma tarde fomos ao CEM (Centro de
Especialidades Médicas), tivemos um diálogo muito rápido, e ouvimos como era o
processo farmacêutico do mesmo. Ouvimos muitas contradições, principalmente na
relação de referência e contra referência citado nos NASF, que nos disse que
quando eles passavam à referência era muito difícil receberem a contra
referência, dificultando o acompanhamento. Na noite tivemos discussões sobre as
visitas e fizemos uma analogia com o que lemos sobre o SUS. E também tivemos a
apresentação dos Núcleos de Base, os NB’s, que foi o que eu já citei lá em
cima, grupos com um monitor. Cada um tinha que escolher um nome, escolhemos o
de Zilda Arns e fizemos uma paródia da musica "Eu sou a diva que você quer copiar - Valesca Popozuda"
Do povo quis cuidar
A saúde melhorar
Mas sofria preconceito
Quem foi que disse que mulher não tem direito?
Ela lutou pelos pobres, fundou a pastoral
Escuta o que eu vou te falar
Zilda é o modelo que devemos copiar
Para acrescentar
sobre a organização, os NB’s tinham funções todos os dias, então a alvorada
(para acordar todo no horário certo), alimentação (para se certificar que todos
façam suas refeições), a limpeza (para deixar os ambientes coletivos limpos) e
a animação e disciplina (para deixar todos sempre animados, com gritos de
guerras, musicas e etc. e se certificar sempre que estão todos dentro dos
ônibus e coisas do tipo).
Na terça-feira dia
24 de fevereiro visitamos o Centro de Reabilitação Mãe Maria, local que, com
certeza, despertou uma vontadezinha de ser Fisioterapeuta, conversamos com uma
assistente social e com uma fisioterapeuta que nos explicou todo o
funcionamento, e ao visitar pudemos ver alguns profissionais em prática, o
local foi muito proveitoso e conseguimos perceber que estava funcionando, mas
como todos, também tinha alguns problemas, como a falta de alguns
profissionais. Logo depois fomos visitar o CTO (Centro de Tratamento
Ortopédico) local que nos deixou um pouco tristes por conta do pouco espaço
utilizado, apesar de ser um espaço grande, e da falta de estrutura. Logo depois
voltamos ao alojamento para o almoço, lembrando que, todos os dias depois do
café da manhã íamos para as visitas, voltávamos para o almoço e retornávamos logo
após para outra visita. Fomos visitar pela tarde o Centro de Testagem e
Aconselhamento, onde tivemos uma espécie de “aula” sobre como funcionavam
gostamos muito da profissional que estava trabalhando a apenas dias lá,
mostrando-se muito empenhada em melhorar o local. Na noite tivemos um debate
sobre o financiamento e as intenções com o capitalismo, isso em grupos, e logo
depois fizemos um “link” da visita com o nosso debate, isso já com todos
juntos.
Mas a parte das
visitas, logo cedo foi pedido para que a gente fizesse um peixinho de papel e
cuidasse dele o dia todo e colocando um nome no mesmo, eu coloquei o nome do
meu de solidariedade, porque eu estava ocupada na minha atividade do dia e não
tive como fazer, então Sara fez pra mim, ato que me deixou muito feliz, na
noite depois do nosso debate foi feito uma dinâmica revelando a função daquele
peixinho, mostrando mais uma vez que sozinhos não podemos fazer muita coisa,
mas junto com certeza podemos fazer muitas e muitas coisas.
O CARDUME QUER
REVOLUÇÃO!
Dia 25 de
fevereiro, na quarta-feira visitamos o CAPS AD pela manhã e tivemos a maior
aula de motivação de todas nossas vidas conhecemos profissionais tão empenhamos
e apaixonados pelo o que fazem que todos nós saímos com uma sementinha plantada
de luta. Foi explicado como tudo funcionava e a grande dificuldade que tinham
para manter, e que se não fosse pela garra daqueles profissionais aquele lugar
já teria “morrido”, mais uma vez foi salientada a falta de investimento e a
falta de outros profissionais necessários, de equipamentos e materiais. O
discurso me emocionou muito, e me fez entender que em cada palavra ali estava
um pedido de socorro, que eles sozinhos não podem mudar tudo para melhor, que
eles fazem tudo aquilo que está ao alcance deles e até mais, mas que eles
precisavam da nossa ajuda. Não foi dito com essas palavras, mas todos nós
saímos tocados e com esse pensamento. Já no CAPS II, a visita feita logo
depois, nos mostrou dois tipos de profissionais, um que não demonstrava nenhum
tipo de interesse de estarem ali trabalhando, que por sinal, fazia parte do
conselho municipal de saúde, e outros que, ajudavam de todas as formas aquelas
crianças, mas infelizmente ouvimos alguns discursos que nos deixaram
extremamente tristes. Foi uma visita que despertou dois olhares. Na tarde, como
não tivemos visita, nossa atividade foi no alojamento mesmo, com apresentação
de documentários e com muitas discussões acerca da saúde mental e a atenção da
saúde pública para a mesma, fazendo que nos refletíssemos e perceber que é uma
área pouco assistida, mas que precisa urgentemente de mais atenção. Na noite de
quarta tivemos um debate caloroso sobre o machismo, racismo, sobre identidade
sexual e orientação sexual, feminismo e as questões de raça, um debate que foi
muito enriquecedor, nós trazendo várias reflexões, sobre até nossas atitudes
diárias.
Na quinta, dia 26
de fevereiro, tivemos a visita que, diga-se de passagem, mudou pra sempre a
vida de cada um presente. Visitamos o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra
ou Movimento Sem Terra), onde tivemos uma conversa com os moradores do
Assentamento Rosinha do Prado, que nos deixou completamente inspirados com a
organização, companheirismo e luta! Foi uma oportunidade maravilhosa de
conhecer a historia do assentamento e também ouvir as famílias e as histórias
delas. Almoçamos lá mesmo e de tarde fomo visitar as famílias. Tive a
oportunidade de conhecer uma família jovem, que me fez refletir muito sobre o
que seria realmente a saúde. Conheci um cadeirante que disse que tinha vontade
de sair dali com a esposa e os filhos por conta de sua saúde, mas que
permanecia por causa do seu pai que não queria se mudar de maneira alguma,
conversando com o pai percebemos o amor que ele tinha por sua terra e a forma
que estava bem ali, me fazendo refletir mais uma vez sobre o que é saúde, saúde
não seria o bem estar físico e mental? Pois aquele senhor estava feliz onde ele
estava e tanto importava os fatores ditos “essenciais” ditados por uma
sociedade capitalista. Mas refletindo a pergunta feita a noite na roda de
discussão, se eles eram saudáveis, ou melhor, se tinham saúde? Eu respondi no
dia citando alguns exemplos que hoje não tomo mais como um, mas reformulei e
pensei bem sobre o que eu disse, sobre as outras falas, e sobre o que venho
estudando. Eles são sim saudáveis, mais do que a gente, mas a saúde não envolve
só a felicidade, mas também o acesso a essa saúde faz parte do “o que é saúde”
e infelizmente os relatos que tivemos, de serem negados em postos, de ficarem
um ano ou mais para conseguir uma consulta ou um exame, esses fatores me fez
entender que a saúde para está sendo negada, há uma grande parcela da sociedade
que fecham os olhos para o que está acontecendo, e pior, acabam ainda por cima
criticando de maneira alienada um movimento. Um transporte público também lhe
és negado, então eles recorrem ao companheirismo a luta para que consiga se
locomover para a cidade, entre outras coisas. Naquela noite tivemos um debate
sobre determinantes e conceitos de saúde, reforçando tudo aquilo que estudamos
e presenciamos na visita. Pode se dizer que foi a discussão mais quente e
emocionante que tivemos, os relatos e principalmente os discursos demonstrando
o quanto essa visita nos fez sentir o desejo por mudança.
Na sexta feira,
ultimo dia de nossa viagem, dia 27 de fevereiro tivemos a visita ao Hospital
Municipal de Teixeira, que, nos deixou extremamente tristes com tudo que vimos.
Um hospital referência que não tinha um nutricionista, que faltava roupas para
o médico poder realizar as cirurgias, que tinham o mínimo de conforto ou
segurança para seus pacientes; uma superlotação com pacientes no corredor e
extremamente sujo. Saímos muito tristes, não estávamos acreditando no que
estávamos vendo. Logo depois dessa visita fomos visitar o SAMU, que me marcou
muito, por conta de sonhar em trabalhar nesse local. Conheci uma das pessoas
que eu tenho certeza que nunca mais vou esquecer na vida, o Enfermeiro Igor,
que é muito apaixonado por aquilo que ele faz. Ele fez questão de nos mostrar
todo o processo e todos os equipamentos da ambulância, seu discurso humanizado
inspirou cada coração ali presente, no final, depois de ter segurado o choro
por tantos dias, eu não consegui me conter e disse a ele toda a admiração que
senti em tão pouco tempo. Na tarde tivemos a visita ao Conselho Municipal da
Saúde, onde pudemos conversar com os seus integrantes, foi algo que pudemos
mostrar tudo aquilo que vimos e perguntar sobre as providências que estão sendo
tomadas para resolver, percebemos e ficamos muito tristes com a falta de
informação sobre saúde daqueles que faziam parte do conselho. E então, voltando
para o alojamento, tivemos o que podemos chamar de “noite do choro”, onde nós
pudemos falar tudo o que aquela semana representou para nós, as nossas aprendizagem;
falar sobre como nós pensávamos antes e como tudo mudou logo após essa semana,
foi uma noite muito forte. E depois revelamos nossos Amigos Clandestinos e tivemos a nossa Cultural.
Enfim, tenho
certeza que será uma experiência para levar para o resto da minha vida, as
pessoas que conheci, as conversas, os debates, as convivências, os abraços... Principalmente
a ideia maravilhosa do Amigo Clandestino, que era sorteado uma pessoa, que
ninguém poderia saber quem era, e você sempre deixasse naquela caixinha,
recadinhos e/ou presentinhos simples, demonstrando o carinho uns com os outros
e também cuidando daquela pessoa, tanto que nos apelidamos de “anjos”, então
tínhamos sempre que nos certificarmos que aquela pessoa tinha comido, que
estava bem, que estava dentro do ônibus e afins. Eu tive a sorte de tirar uma
pessoa que sempre me inspirou muito e tive a oportunidade de deixar isso bem
claro a ela. E dessa forma todos estavam sendo bem cuidados e mimados.
Todas as
visitas e todas as atividades me acrescentaram de maneira absurda na minha
formação, meu conhecimento e até a minha forma de pensar. Hoje eu sou mais
completa, tenho certeza do que realmente quero fazer e que saúde é sim o
caminho que sempre quis trilhar. E que apesar de tudo nós podemos sim mudar a
nossa realidade porque assim como a nossa saúde publica foi criada, através da
luta, nós também podemos melhora-la com esse mecanismo. Colocando sempre muito
amor em tudo aquilo que estamos fazendo, não nos esquecendo nunca de que a
nossa missão é cuidar e estar sempre disposto a prevenir, promover e a salvar a
vida de outras pessoas, tratando-as sempre como humanos, porque é isso que nós
somos.
A
SEVI MUDA VIDA
MUDOU
A MINHA VIDA!
¹Frases do tipo "Paciente para mim não significa dinheiro, e sim cuidar da melhor maneira possível." "Em Cuba não existe hospital particular." "Cuba não tem criança na rua, não tem violência, e existem carências econômicas, o Brasil é rico!" "Calamos a boca dos fofoqueiros com o nosso trabalho." "Um dos problemas está na formação." e nos explicou como é o processo de contrato e etc. Enfim, frases como essa nos fazem refletir sobre nosso sistema e sobre nós mesmos.
Espero que tenham gostado e desculpa a demora, esse relatório deu 6 páginas, imagina se eu fosse escrever tudo de novo aqui né
ps: Não sei porque as letras ficam mudando de fonte e tamanho.
xoxo,
Carol Magalhães.
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